Gestora de fortunas formada por empresários e banqueiro conhecidos passa a ter famílias fora do grupo original
O multi-family office GHT4 acertou uma fusão entre o seu braço de gestão de recursos e a Loyall Capital Partners. Com o acordo, inaugura efetivamente o atendimento para fora dos grupos familiares que deram origem ao negócio. E, de quebra, adiciona uma tecnologia que deve ser útil para as suas ambições de ser uma casa de base digital, como está na raiz de um dos seus fundadores – mas sem perder a personalização exigida em negócios de administração de riqueza.
A gestora de patrimônio se tornou operacional em meados de 2021 com executivos conhecidos por meio empresarial e financeiro, com Laércio Cosentino, fundador e presidente do conselho da Totvs, Guga Valente, dono do grupo de comunicação ABC (que inclui agências Africa, Dm9DDB e CDN), o ex- CEO do Itaú BBA Caio Ibrahim David e Rodrigo Vella, do Vella Pugliesi Buosi e Guidoni Advogados. Em abril, o grupo trouxe como sócio Livinston Bauermeister, ex-CEO da Veste (antiga Restoque), para cuidar da divisão de private equity. Agora, Marcos Hatushikano, da Loyall, passa a integrar a sociedade. Com os negócios combinados, a GHT4 alcança cerca de R$4 bilhões em patrimônio.
“Essa fusão veio depois de diversas conversas com outros agentes de mercado, dado o movimento de consolidação que se vê no setor. É um passo interessante para ganhar escala e, assim, fortalecer os times e perenizar o negócio”, diz Hatushikano.
O executivo fundou a Loyall quase 15 anos atrás. Antes, foi diretor comercial da área de gestão de riqueza do então UBS Pactual, de produtos de varejo e tesouraria do Citibank e ainda passou pela Becton Dickison e pelo Banco Matrix. “Mudei do lado da mesa, tentando traduzir o mercado financeiro para as famílias e conquistando a confiança delas desde o início”, afirma, acrescentando que o primeiro cliente está na casa até hoje, em transição para a quarta geração.
A Loyall atuava tanto no aconselhamento e alocação de ativos em fundos exclusivos/ restritos como na gestão condominial, com dois porfólios de ações, um local e outro de bolsa global.
A casa se vale de ferramentas de inteligência artificial para analisar a fundo a performance de companhias listadas, comparar relatórios das áreas de pesquisa de banco e corretoras, recomendações e apresentações de administração. Em paralelo, tem uma ferramenta de consolidação de carteiras, um tema particularmente sensível no setor e bastante demandado pelos clientes para ter uma fotografia periódica do conjunto de patrimônio.
No Brasil, a maior parte de captura de dados em fontes públicas está automatizada e o investidor consegue enxergar o portfólio inteiro como se fosse a cota de um fundo, diz Hatushikano. No exterior, a Loyall consegue rastrear os ativos líquidos, como ações e títulos de dívida, mas tem mais dificuldade para incorporar hedge funds, por exemplo, que não têm divulgação de cota diária como no Brasil – algumas carteiras são mensais, outras trimestrais.
A ferramenta de consolidação de carteiras casa com a novata de tecnologia financeira Stocci, que tem explorado o uso de inteligência artificial para otimizar a gestão de portfólios das famílias, e com o investimento feito pela GHT4 na Dataland, uma solução de “big data” usada para monitorar imóveis e outros ativos reais, identificando, por exemplo, os melhores momentos para negociar ou estruturar financeiramente um bem.
“Vamos ser uma gestora tech”, preconiza David. “Hoje, fala-se muito de gestoras que são mais especializadas em ativos ilíquidos, como os investimentos de private equity, e claramente há uma oportunidade de fazer diferença na gestão de ativos das famílias. Algumas têm 80% do patrimônio em imóveis”.
O executivo conta que foi na jornada para buscar talentos para as verticais que a GHT4 planejou desenvolver desde o começo – gestão de riqueza, asset, private equity/venture capital e área de fusões e aquisições – que surgiu a oportunidade de fazer a transação com a Loyall.
“Isso traz aquele modelo inicial para outro nível de ativos sob gestão, com uma equipe pronta, montada para atende plenamente não só as nossas necessidades, mas também para escalarmos o negócio à medida que tem a oportunidade de desenvolver relacionamento com outros clientes”, afirma David.
Cosentino acrescenta que a Loyall é um passo para a GHT4 se tornar de fato um grupo completo, pronto para escalar. “Nosso trabalho de gestão de patrimônio, o dia a dia de ‘concierge’ para as nossas famílias e outras ao redor da operação já estavam funcionando, mas de maneira não tão estruturada”, diz. “A parte de serviços, ideias [de investimentos] e relacionamento, a gente entende que com capital vai conseguir unir os pilares que foram a razão de fundar o multi-family office”. O objetivo é ter muita proximidade com o cliente, oferecer co-investimentos nas oportunidades que identificar.
A Loyall acrescenta mais de 50 grupos familiares à operação, com mais de R$1 bilhão em ativos locais, segundo ranking de gestão da Anbima – a casa não abre a parcela de recursos que seus clientes têm no exterior.
David diz que há espaço para novos movimentos de consolidação liderado pelo grupo. “Tem algumas conversas e interesses de alguns gestores que podem ajudar a complementar a oferta de produtos, seja em asset seja em wealth management. Há também gestores de carteiras [adminiustradas] e ‘bankers’ que poderiam ser atraídos para uma plataforma mais completa”, afirma.
“Tem mais de 900 assets no Brasil, não faz muito sentido, nos Estados Unidos são cerca de 500. É um parâmetro interessante. Claramente vai levar para um ajuste no mercado de assets, porque escala é importante nesse negócio”, diz David.
O executivo cita mapeamento feito pela Oliver Wyman que calcula que o mercado de gestão de riqueza, de investidores com mais de US$ 1 milhão de patrimônio financeiro, tenha cerca US$ 1,1 trilhão no Brasil, sendo a maior parte disso, mais de US$ 715 bilhões, na faixa acima de US$ 100 milhões. Do bolo total, US$ 797 milhões estariam no exterior, pelas projeções.
Mas, do volume trilionário, apenas uma fatia de 10% está nas mãos do segmento MFO, indicando haver muito espaço para a gestão independente. Os grandes bancos locais detêm de 30% a 35% do bolo; os estrangeiros, entre 15% e 20%, enquanto novos participantes, a exemplo de plataformas como XP, Safra Invest ou WHG, menos de 10%.