Fundadores da Totvs e do grupo ABC se unem a ex-Itaú e advogado em escritório

de gestão de patrimônio

Executivos conhecidos nas rodas empresarial e financeira se uniram para criar um escritório de gestão de patrimônio. Batizado como GHT4, The Family Company – referência aos hormônios do crescimento (GH) e do equilíbrio (T4) -, o grupo traz Laércio Cosentino, fundador e presidente do conselhor Totvs, Guga Valente, do grupo de comunicação ABC (que inclui as agências Africa, Dm9DDB e CDN), o ex-CEO do Itaú BBA Caio Ibrahim David e Rodrigo Vella, do Vella Pugliesi Buosi e Guidoni Advogados.

A nova empresa consolida as estruturas que cada família tinha separadamente para administrar seus investimentos e patrimônio. Juntos, eles esperam alavancar novos negócios no universo de ilíquidos e assegurar um legado para as próximas gerações. Esse formato, em que alguns grupos econômicos se reúnem para constituir um Multifamily office, é bastante comum no exterior. É uma forma de ganhar eficiência, captar sinergias e estabalecer boas práticas de governança familiar.

Gestora de patrimônio já tem oito companhias investidas e pode evoluir
para fundo de “private equity”

“A gente iniciou o movimento não só com o objetivo de reduzir custos, mas discutindo como ter um serviço de melhor qualidade ao unir famílias com essas expertises distintas dos sócios-fundadores para gerir patrimônio, profissionalizar a gestão e a governança alinhadas com os herdeiros e garantir a perenidade”, diz Cosentino. “Se não trabalha de maneira adequada, o risco é por tudo a perder”.

Desenvolver integrantes das famílias para que se tornem futuros líderes e empreendedores e possam contribuir para a sociedade em geral será uma das abordagens do GHT4, afirma David. Outro importante pilar é compartilhar investimentos. “Primeiro passo trazer uma gestão mais dinâmica, estar mais próximo das famílias e das oportunidades de mercado. É um portfólio que deve crescer em número de produtos investidos”, diz. Ao mesmo tempo, haverá soluções customizadas para cada grupo familiar, com parte do portfólio gerido de maneira individual e parte coletivamente.

No universo de ilíquidos o GHT4 já nasce com oito empresas investidas, algumas em que os fundadores são sócios em comum e outras em que participam individualmente. Entre os principais nomes estão Mendelics, Shipay, Inovalli Jardins, BR-ME, Biosolvit e Brain4Care. Já há outros negócios a rodar.

Saúde, educação, novatas de tecnologia financeira ou projetos com ênfase em inovação compõem o espectro de interesse. Projetos com práticas sustentáveis e que possam trazer impacto social estão entre as premissas de avaliação. O portfólio é concentrado em Brasil, mas aos poucos vai também olhar para o exterior.

Apesar de partir de um núcleo restrito, Cosentino diz que numa segunda etapa o projeto da GHT4 prevê a entrada de outras famílias, “desde que tenham os mesmos valores e premissas do grupo inicial”. Um passo esperado é se tornar uma gestora de “private equity”. A ideia é trabalhar como uma butique de investimento, trazer a complementaridade de outros grupos. Não simplesmente ter um fundo e fazer a captação, mas contar com outros atores na composição dos negócios que entrarem no portfólio – por isso, “The family company” no complemento do nome.

David diz que as estimativas são de que o mercado de gestão e riqueza independente no Brasil tenha o equivalente a US$ 80 bilhões e com projeções de crescimento a taxas de 20% a 30% nos próximos cinco anos. “De fato é um modelo mais internacional que vem constituindo no Brasil. A intenção aqui é ter não só um modelo mais customizado, mas também obter ganhos pelo fato de estarmos juntos dentro de uma estrutura compartilhada”.

Os executivos não abrem o patrimônio do GHT4, mas David cita que o escritório já estreia um tamanho interessante. A equipe conta com cerca de 30 pessoas na retaguarda, “concierge” e imobiliário. A gestão das investidas, com contabilidade, abertura de contas, também vem dessa estrutura, já que a maior parte é de companhias em estágio inicial, em que os sócios são inestidores anjo e contribuem ativamente.

Num momento em que a disputa por profissionais que atuam na gestão de patrimônio está aquecida, ter uma estrutura compartilhada e pensar no crescimento é uma forma de atrair e manter talentos, avalia Cosentino. “Quando se tem um escritório só com a sua família, reter as pessoas no curto e médio prazo é mais difícil. Com a pluralidade que criamos já é mais natural”.

O grupo começa atuando nos ilíquidos até pelos investimentos que já possui em algumas startups e, gradualmente, deve construir uma integração em ativos líquidos, em fundos mais tradicionais, afirma David. A gestora terá uma estrutura dedicada a alternativos, para ativos imobiliários, private equity ou venture capital, com fundo dedicados a isso, exclusivos ou não.

Outra atividade será levar a governança familiar para outro nível, prossegue o executivo. Preparar as novas gerações para assumirem seus papéis, desenvolver lideranças e planos de sucessão. Na interação com as investidas, não só os sócios participam dos conselhos nos negócios em que têm maior habilidade. Os herdeiros da segunda e terceira gerações também se envolvem, para que vejam valor no que estão construindo, diz Cosentino.

“Se fizesse sozinho, provavelmente faria mais rápido, mas juntos vamos mais longe”, afirma. O mais importante não é ter um multifamily office, mas atuar na forma que o negócio está sendo modelado. “Se olhar o perfil de alguns fundos de investimento de startups, muitas vezes tem o apelo financeiro, algum apoio na gestão, participa de conselhos, mas com envolvimento reduzido em termos de estratégia”.

Considerando a especialidade de cada um dos fundadores, Cosentino diz que eles perceberam que havia um nicho para atuar, partindo da experiência nos investimentos que já fizeram.

David acrescenta que, dependendo do negócio, fazer co-investimentos com outros escritórios de gestão de patrimônio é uma prerrogativa que o grupo pretende usar. Pode, assim, explorar oportunidades de forma mais estruturada, atrair outras famílias e se valer do conhecimento que tem dentro de casa no desenvolvimento dos projetos, “o que pode fazer diferença lá na frente”.

Mas se numa família só as relações entre dinheiro e sucessão às vezes ficam tensas, que dirá quatro grupos reunidos? “Todos os possíveis conflitos podem ser aumentados, colocar uma lente de aumento. Mas quando se cria uma estrutura eu posso ser, por exemplo, o mediador de uma situação de outro sócio”, diz Cosentino. “Às vezes, as pessoas não dão valor, mas é importante, a gente se conhece de longa data, não estamos simplesmente juntando dinheiro para fazer investimentos.”

Cosentino conta que o Itaú sempre foi muito parceiro em tudo que investiu, inclusive na oferta pública inicial (IPO) da Totvs, em 2006. O grupo ABC foi cliente da empresa de tecnologia, enquanto Vella foi consumidor de alguns produtos da empresa e ao mesmo tempo seu assessor jurídico. “É um amadurecimento de muitos anos, não nasceu com a pandemia”, diz. Em seus 11 anos no banco, David acrescenta que todos os sócios foram seus clientes em menor ou maior grau e que as famílias acabaram ficando muito próximas.

Fonte: https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/08/16/ght4-nasce-com-dna-de-familias-conhecidas.ghtml